Lunda Tchokwe

Os Tchokwe / Chokwe desfrutam de uma admirável tradição de esculpir máscaras, esculturas e outras figuras. A sua arte inventiva e dinâmica, é representativa das várias facetas inerentes a sua vida comunitária, dos seus contos míticos e dos seus preceitos filosóficos. As suas peças de arte gozam de um papel predominante em rituais culturais, representando a vida e a morte, a passagem para a fase adulta, a celebração de uma colheita nova ou ainda o início da estação de caça. O nome Tshokwe apresenta algumas variantes (Tchokwe, Chokwe, Batshioko, Cokwe) e, entre os portugueses, ficaram conhecidos por Quiocos . "Nesta pagina podemos usar qualquer variante do nome Tshokwe (acima referido)"

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Tradutor/Translation

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

FELIZ ANO NOVO!!!

-Nunca é tarde demais para começar tudo de novo. Sempre haverá chances de você recomeçar algo que deixou incompleto ou restaurar aquilo que precisa de um pouco mais de sua atenção. Não repetir os erros do ano velho é a melhor forma de começar o ano novo.

-No dia 31 de dezembro de 2011, quando os ponteiros do relógio se juntarem, já será um novo ano, até lá terei tempo de sobra para te conquistar. Um beijo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

LÍNGUA ‘’UTCHOKWE’’

ASPECTOS FUNDAMENTAIS E PARTICULARES DA LÍNGUA ‘’UTCHOKWE’’ (segundo J.V. Martins)

Fonética
Alfabeto e seus caracteres
De acordo com o quadro fonético dos caracteres, preconizado pelo Instituto de Cultura e Línguas Africanas, que adiante apresentamos, as vogais são como em português: a, e, i, o, u. São breves ou longas. A vogal e (breve) na pronúncia, rápida antes da vogal, geralmente soa como i. Exemplo:
Pembe atoma; penbiatoma (cabra branca).
Ngombe apema; ngombiapema (boi bom).
Regra geral não há ditongos: ai, ao, eu, ou.
Quando há duas vogais finais, formam duas sílabas, sendo a primeira sempre acentuada. Por isso, empregamos as semivogais w e y para acentuar a vogal seguinte, ou das sílabas anteriores ou seguintes. O w emprega-se em substituição do u: Exemplo:
Ku-fua; ku-fw-a (morrer).
O y substitui o i breve. Exemplo:
limbia; y-im-by-a (panela).

A grafia do r utchokwe é um assunto muito discutido e que ainda não está bem resolvido. Escreve-se r ou l, conforme o parecer de cada um. Em algumas regiões de Angola, onde há mistura de tutchokwe com luenas, ambundos, ganguelas, umbundos, luchazes e outros, substitui-se o r por l.

Quase todos os livros que temos visto escritos em língua Utchokwe, quer nas missões protestantes quer católicas, escrevem l em vez do r. Ora, se bem que os Tutchokwe não pronunciem o r forte, muito menos pronunciam o l, mas sim um r línguo-palatal tão fraco como aquele que nós pronunciamos na palavra ‘’arara’’. O facto de , nas publicações em Utchokwe, editadas pelos missionários protestantes e católicos, se escrever l em vez de r, dá-nos a entender que, nas regiões onde essas publicações foram feitas, os tutchokwe pronunciam mais acentuadamente o l. Os próprios nativos da região nordeste da Lunda dizem que, tal pronúncia é antiga e de mistura com a língua Umbunda, enquanto nesta região o r se deve à influência dos lundas e quimbundos.


Dum modo geral, dá-se preferência à ortografia sónica. Todavia, em casos consagrados pelo uso, empregámos as fórmulas vulgarmente conhecidas, com o propósito de obter uma melhor compreensão.
Como o nh português se prestava a confusões, pela decomposição de n e h aspirado, adoptámos o grupo ny.
No intuito de ser melhor compreendido e auxiliar o leitor, junta-se, a seguir, os quadros fonéticos dos grafemas preconizados pelo Instituto de Cultura e Línguas Africanas e dos que empregámos para escrever a língua dos Tutchokwe.
Quando há duas vogais iniciais, o i ou o e funcionam como semivogais. Por isso, o i é substituído e grafado com y.


Exemplo:
Iáia; yaya (irmão mais velho)
Áiáia; ayaya (irmãos mais velhos.
As consoantes são: b, c, d, f, g, h, j, k, l, m, n, p, q, r, s, t, v, x, z e soam também como em português, devendo observar-se todas as indicações adiante mencionadas.

Grafia e pronúncia
Em utchokwe, ou quioco, como esta língua é mais conhecida, de acordo com algumas normas estabelecidas para a escrita das línguas bantas, dá-se a cada letra um valor único em qualquer situação em que ela se encontra, isto é, a cada signo um som e a cada som um signo.
Assim, o s tem sempre o valor de ss e de c antes de e ou l.
O g nunca vale j. Pronuncia-se sempre ‘’guê’’.
O j pronuncia-se sempre como em português nas palavras ‘’José’’ e ‘’justo’’.
O o nunca é empregue com o valor de u.
O q e o c, nos seus valores duros, são substituídos por k.
O c só se emprega combinado com o h = ch.
O problema mais delicado surge-nos com a grafia dos sons ch e tch, em virtude de estes valores aparecerem frequentemente nas línguas bantas e serem representados por formas diversas, consoante os autores (c, cx, tx, ch, tch e ainda sh e tsh).


Nós adoptamos os grupos ch e tch, tendo o primeiro o som ch português da palavra ‘’chá’’ e o segundo o som da palavra inglesa ‘’match’’, que soa como tche ou tsh.
O f, quando precedido de p, de t ou de qualquer outra consoante, deve pronunciar-se muito fraca e suavemente.


O h é sempre aspirado, excepto quando combinado com c – ch.
O p e o h não se combinam; pronunciam-se separadamente, notando-se bem a aspiração do h.
O r é sempre línguo-palatal, muito suave, e pronuncia-se como em inglês, aproximadamente. Não tem o nosso r forte nem rr dobrados.


Encontram-se outras particularidades, destinadas a fixar a índole da pronúncia utchokwe, que facilmente se compreendem, como sejam: mb, mp, nd, ng, nz, dj.
Tanto o m como o n nasalam sempre com a consoante seguinte, mesmo que sejam precedidas de vogal.
Contracções e elisões
Em utchokwe, tal como em todas as línguas, também há contracções e elisões que convém notar, antes de entrar no estudo morfológico.


Assim, temos:
A+a contrai-se em a. Exemplo:
Ku-fwa atfu = kuf’átfu (morrem pessoas)
A+e contrai-se em e. Exemplo:
Na endele = n’endele (eu andei).
A+i contrai-se em e. Exemplo:
Na injile ou na injye = n’enjile (eu adoeci).
A+o contrai-se em o. Exemplo:
Kana ombo = kan’ombo (põe ovos)
A+u contrai-se em a. Exemplo:
Mawta = ma’ta (espingardas)
E+a contrai-se em a. Exemplo:
Membe a-ya = memb’á-ya? (de quem são os pombos)
E+e contrai-se em e. Exemplo:
Pembe enda = Pemb’enda (as cabras andam)
E+i contrai-se em i. Exemplo:
Pembe yono = pem’yono (a cabra está aqui)
I+i contrai-se em i. Exemplo:
Nzambi kuri yetwe = Nzambi kur’yetwe (Deus ‘está’ connosco)
Como se vê pelos exemplos atrás referidos, a vogal a cai antes de a, e, i e o; o e cai antes de a, e e i, enquanto o i apenas cai antes de i. Convém notar, porém, que nenhuma vogal se contrai com outra vogal inicial de um prefixo concordante ou complemento determinativo. Exemplo:
Yimbia ya etuwe = Yimbia y’etwe (a nossa panela).
O acento tónico recai sempre na penúltima sílaba, salvo raras excepções, visto a maioria das palavras serem graves.


Como adoptamos a grafia indicada no quadro fonético já citado, a acentuação tónica faz-se utilizando as semivogais w e y, como em inglês, evitando, assim, uma profusão de acentos.

Sílabas
Todas as palavras terminam em vogal e nunca em consoante.
Não há ditongos an, en, in, on, un. Por esta razão, tanto o m como o n nasalam sempre com a consoante que lhes segue e nunca com a vogal antecedente; e são puras quando seguidas de uma vogal.
Exemplo:
Ngaje = nga-je (fruto da palmeira ‘’den-den’’ e não négage , como muita gente diz).
Ngombe = ngo’mbe (boi)
Mpafu = mpa-fu (fruto semelhante a grandes azeitonas, produzido pela árvore resinosa mupafu).
Ndongo = ndo-ngo (agulha)
Nzambi = Nza-mbi (Deus supremo)
Mbunge = mbu-nge (coração)
Nzango = nza-ngo (amor)
Morfologia

Classe dos substantivos
Em utchokwe, tal como em todas as línguas bantas, dividem-se os seres em determinado número de classes, cujo conhecimento é absolutamente necessário, a fim de se poder estabelecer a perfeita concordância entre as diferentes palavras de qualquer oração.


Exceptuando as pessoas e alguns animais, que têm nomes especiais para cada sexo, todos os restantes são comuns de dois, ou epicenos, havendo, assim, cinco formas de géneros, a saber:
Dois géneros distintos (masculino e feminino), para as pessoas ou coisas personificadas; dois para as aves, um neutro para pessoas ou coisas personificadas, um neutro para coisas indeterminadas e, por fim, dois para designar, duma maneira geral, todos os seres animados, com excepção de coisas personificadas. Exemplo:
Lunga (o homem) Pfwo (a mulher)
Demba (o galo) Tchari (a galinha)
Kunji (o macho) Tchihwo (a fêmea)
Mutfu (a pessoa) Tchuma (a coisa)
Assim, quando se torna necessário determinar o sexo, sempre que a palavra o não indica por contexto ou por si mesma, forma-se o género juntando as palavras kunji ou tchihwo, regidas do respectivo genitivo para o masculino e feminino, tendo sempre em atenção as formas a empregar. Exemplo:

1ª forma – Só para pessoas ou coisas personificadas:
Mutfu wa lunga (pessoa homem ou pessoa macho, ‘’pessoa de macho’’)
Mutfu wa pfwo (pessoa mulher ou pessoa fêmea, ‘’pessoa de fêmea’’)
Mwana lunga (criança rapaz ou criança macho)
Mwana pfwo (criança rapariga ou criança fêmea)
Kanuke wa lunga (rapaz ‘’moço’’, macho ‘’rapaz de macho’’)
Kanuke wa pfwo (rapariga ‘’moça’’, fêmea ‘’rapariga de fêmea’’)
Kabindji wa lunga (escravo macho ‘’escravo de macho’’)
Kabindji wa pfwo (escravo fêmea ‘’escravo de fêmea’’)
Hamba rya lunga (ídolo macho ‘’ídolo de macho’’)
Hamba rya pfwo (ídolo fêmea ‘’ídolo de fêmea’’)

2ª forma – Como se vê, as palavras mutfu atfu (pessoa/s), podem ser designadas por género neutro, se queremos apenas indicar pessoas ou coisas personificadas, indefinidamente. Exemplo:
Mutfu kachi-ku (nem uma pessoa, ninguém está)
Atfu ku a-ri (há algumas pessoas, há gente)

3ª forma – Só para aves:
Kasumbi wa ndemba (galináceo macho ou galináceo de macho)
Ndemba kasumbi (macho galináceo)
Kasumbi wa tchari (galináceo fêmea) ou tchari tcha kasumbi (fêmea de galináceo)
Kajia wa ndemba (ave macho) ou ndemba kajia (macho ave)
Kajia wa tchari (ave fêmea) ou tchari tcha kajia (fêmea de ave)

4ª forma – Para qualquer ser animado, excepto para pessoas ou coisas personificadas:
Kachitu wa kunji (o animal macho ou animal de macho)
Kachitu wa tchihwo (o animal fêmea ou animal de fêmea)
Kunj’a panga ou panga wa kunji (ovelha fêmea)
Ngombe wa kunji ou kunj’a ngombe (boi macho ou boi de macho)
Tchihwo tcha ngombe ou ngombe wa tchihwo (boi fêmea ou boi de fêmea)

5ª forma – Para coisas indeterminadas:
Tchuma (coisa) Yuma (coisas)
Imate (coisa) Yumate (coisas)
Como se pode observar, só na 3ª e 4ª formas é que o género se pode empregar antes ou depois do nome, visto que, para pessoas ou coisas personificadas, se emprega sempre depois. Até nisto eles distinguem bem as pessoas de qualquer outro ser animado, porque como eles dizem, nenhum outro animal sabe pensar e raciocinar como o homem.

Exemplo:
Ndemba kasumbi ka-tchina bwalu kasumbi wa tchari ku a-ri kunu (o galo fugiu, mas a galinha está aqui; ficou)
Tchihwo tcha ngombe a-sema, hindu ngombe wa kunji kachiku sema (a vaca pariu mas, contudo, o boi não pode parir).

A ordem é arbitrária.
Com excepção dos substantivos, que têm uma forma para os dois números e que são ainda em número bastante elevado, todos os outros têm dois números (singular e plural), os quais se distinguem por prefixos diferentes, posto que, tal como em todas as outras línguas bantas, esta é também uma língua prefixativa ou aglutinada.
Para completar o que atrás ficou dito, expomos a seguir o quadro da transcrição fonética de dez vocábulos, nos quais são empregues os grafemas k, g, ch, tch, ny, e, w, yi, j, cujos sons poderiam suscitar alguma dúvida.
O referido quadro foi elaborado de acordo com o preceituado pela Association Phonétique International (API) e pela Nova Gramática Contemporânea (de Celso Cunha e Lindley Cintra).


In:Culturalunda-tchokwe

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aldeia de Deus/Tchehunda tcha Nzambi

"Aldeia de Deus"! que na minha língua se chama: "Tchehunda tcha Nzambi"! A Aldeia de Deus, que desde criança ouvia os mais velhos falarem, é onde vivo desde que morri! Pois é! Morri há muitos anos. Revelar quem foi, não importa! As minhas memorias confudem-se com as épocas e as tradições do império Lunda Tchokwe. Agora, livre deste mundo angelical, revejo-me na crença do espirito(1) que vive para alem da morte. Etérea e eterna, conquistei a Tchehunda tcha Nzambi, onde só acedem os mbugue ipema(2), pessoa de bom coração. Depois de atravessarmos o umbral do lugar divino,renascemos anjos ou deuses. Enfim  estamos na sexta dimensão , apenas acessível aos homens com sexto sentido; neste mundo povoado de anjos, a vigília, ponte entre gerações e mundos, é um "modus vivendi". Figuras de luz de um ngombo(3) ancestral advinham a linha da vida na noite celestial. Como velas perdidas numa floresta de enganos são sinais que revelam o caminho aos homens.
Uma aldeia remota no firmamento de uma montanha entre Angola e o Congo, onde a neblina serve de portal a quem se acerca. A rotação anti-horaria dos ventos desvela o centro da aldeia, límpido e tranquilo. As plantas populadas de folhas e flores brilham intensamente. Os aromas da terra confundem-se com a fragrância das flores. Moro no monte das madressilvas e das glicínias. Pode-se dizer que, no meu jardim, as borboletas e as fadas abundam! Um paraíso na Terra!

(1) Mukwa, significa espirito na lingua cokwe.
(2) Mbungue ipema ou pessoa de bom coraçao.
(3) Ngombo é um cesto divinatório usado pelo kimbanda (feiticeiro) na tradição tchokwe.

Lueji Dharma-Nzambi é Amor

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Muito Obrigado, Lueji Dharma!!!!!!!!!




No dia 27de Julho de 2011, recebi das mãos da Lueji Dharma,  este maravilhoso presente em que vou poder  partilhar convosco neste blog, alguns conteúdos nela existente! O meu conselho é; todos que gostam desta cultura, procurem adquirir este maravilhoso livro.

Mais uma vez; Obrigado Lueji Dharma!!!!!!!!!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mukanda = Circuncisão

Actos preparatórios

Dos dez aos catorze anos, os rapazes vão para a mukanda, onde são submetidos à circuncisão e onde lhes são ministrados todos os ensinamentos referentes às canções, músicas, danças da etnia, bem como os trabalhos de artesanato.
Quando numa aldeia ou grupo de aldeias há dois ou três rapazes com idade de serem circuncidados, os pais combinam com o “nganga-mukanda” (operador), com o seu “tchifungudji” (ajudante) e com o “tchikolokolo” (professor e enfermeiro), qual o dia em que será iniciada a festa que precede a entrada na mukanda.
Convém esclarecer que, para cada “kandantche” (aluno), o pai deste escolhe o operador, o ajudante e professor, mas ao último só pagará quando o filho sair da mukanda.
Antigamente, estes pagamentos eram feitos em animais domésticos, bebidas e pulseiras de metal; hoje são feitos em dinheiro. Todos estes pagamentos são feitos pelo “tchikolokolo”, no dia da operação (circuncisão).
Duas a quatro semanas antes do dia marcado, o pai dá um “mwive” (flecha) ao filho e diz-lhe que vá entregá-lo ao “nganga-mukanda”. Reunem-se todos os candidatos e cada qual vai entregar o seu “mwive” ao operador, que os espera na “tchota”, sentado. Então, cada um por sua vez pergunta-lhe:

-Ika una-se mu mivungu wé: china makala nyi ika ?
(O que é pões dentro das tuas cabacinhas: carvão ou o quê?)

 Ika una-se mu mivungu wé: china makala nyi ika ?
(O que é pões dentro das tuas cabacinhas: carvão ou o quê?)

Depois de receber as flechas e ter ouvido a mesma pergunta de todos os candidatos, o operador levanta-se, vai a casa e, empunhando uma cabacinha em cada mão, levanta-as à altura da cabeça e diz:

-“weva tfu” – (ei-las)

A estas palavras respondem todos os candidatos e pessoas presentes:

-“woho!” (é verdade!)

Mal acaba esta exclamação, começam logo os tocadores de “ngoma” e “tchinguvu” a marcar o compasso das danças que o operador executa, acompanhado pelos candidatos. Entretanto, vai batendo com as cabacinhas na cabeça dos candidatos e cantando:

-“hitwa poho” (Chegou o momento)

Ao que todos respondem:

“Woho lelu rya vula” (Oh! Nuvem de chuva)

E as canções continuam....
E o operador canta:

-“”Nganga-mukanda wiva woma” (O operador tem medo).

O coro: - “Woma waka” (medo de quê)

Durante algum tempo sucedem-se as mais variadas canções e ditos referentes à circuncisão.
Finda a dança, o operador oficial – chamemos-lhe assim -, despeja parte do conteúdo das cabacinhas na palma da mão, que leva à boca, droga esta que vai depois cuspir no umbigo e nas costas, por altura dos rins, de todos os candidatos. Com este rito termina a festa daquela noite.
Três dias antes da data marcada para a circuncisão, o pai dá uma galinha ou cabrito ao filho, para que seja oferecido ao seu “tchikolokolo”. Este recebe o animal, mata-o e dá uma porção ao seu “kandandji” (aluno), o qual, por sua vez, entrega ao pai a carne recebida. O pai divide-a em duas partes, dando metade ao filho e dizendo-lhe que vá comê-la, repartindo e comendo-a juntamente com os condiscípulos.



Tchifwa e mwima
Mwima
Na véspera da circuncisão, ao romper do dia, o “nganga-mukanda”, seguido do “mukiche” (mascarado) dos “ikolokolo” e de todos os homens da aldeia, marca a “tchifwa”, destinada exclusivamente às danças dedicadas aos “tundanche” (circuncidados).
Para marcar a “tchifwa”, tira um pouco do conteúdo das suas cabacinhas e vai espargindo-o no sítio onde deve ser feito o cercado, nos arredores da aldeia. E à medida que vai derramando o seu “itumbu” (remédio) mágico, os que o seguem vão cravando pequenas estacas que substituem, depois, definitivamente por outras de maior dimensão.
A tchifwa é um cercado redondo, com uma única entrada; junto desta e da parte de dentro, é construída uma pequena palhota destinada à “Ná Tchifwa”, a mulher mais idosa da aldeia a quem compete a preparação das primeiras refeições dos “tundandji”. A razão desta função ser atribuída a tal mulher é para que os circuncidados não emagreçam, não adoeçam ou morram, o que podia suceder se as refeições fossem preparadas por uma mulher de estado impuro, isto é que pudesse ter relações sexuais com qualquer homem, o que a ela é vedado.
Logo que a tchifwa está pronta, pouco antes do pôr do sol, o “nganga-mukanda”, seguido dos “tundandji”, “ikolokolo” e todos os homens da aldeia, vão ao mato cortar o “mwima” (espécie de arbusto a que dão o nome de “mwehe” (Hymenocardia acida)). O “mwima” tem cerca de 1,75 metros de altura, terminando em forquilha, com duas pontas, uma mais alta que a outra.
O operador que vai à frente, quando descobre um “mwehe” que reúna as condições necessárias, tira um bocado de pó das suas cabacinhas e sopra-o sobre o arbusto; ao mesmo tempo, entrega o machado a um dos rapazes. Este, a partir daquela data, passa a ser tratado por “tfumba kambungu”, ou seja o chefe dos tundanche da sua escola. Feito isto, o operador ordena ao candidato que corte o “mwima”.
O “tfumba kambungu”, pegando no machado, vibra um golpe no “mwehe” e passa-o, em seguida, a um outro rapaz que procede da mesma forma. Sem excepção, todos os seus condiscípulos dão uma machadada até que o “mwima” seja derrubado.
Cortado o “mwima”, o kandandji que deu a última machadada, limpa-lhe os ramos e entrega-os ao “mukichi”. Este, à frente de todo o cortejo, transporta-o ao ombro até à frente da porta da “Na Tchifwa”, onde é plantado numa pequena cova, aberta pelos “ikolokolo” e onde o operador põe um pouco de lama para que o “mwima” não seque; se tal sucedesse, o emagrecimento e as doenças poderiam alcançar os circuncidados.
Durante a plantação do “mwima”, o “nganga-mukanda” vai cantando:
- “musaswe, musaswe” – (coisa amarga, coisa amarga)

Ao que o coro responde:

- “woho! Musaswe”.

Terminada a cerimónia, o operador segurando um galo com as duas mãos, entala-lhe o pescoço entre as duas hastes da forquilha. Simultâneamente, puxa-o com força para si e com um brusco esticão separa-lhe a cabeça do resto do corpo. Acto contínuo, pega na cabeça do galo e espeta-a de bico para cima, na ponta afiada e mais alta do “mwima”. Este é regado com o sangue quente que brota do pescoço do animal sacrificado aos espíritos protectores dos “tundandji”, para que os livre de todas as doenças e de todo o mal. Deste galináceo, o pescoço pertence ao “mukichi” e o resto aos “nganga-mukanda”; a mais ninguém é permitido tocar na carne desse galináceo.



Tchisela

Na véspera da entrada dos rapazes na mukanda, logo que anoitece, todos os casais da aldeia e outros estranhos vão para dentro da “tchifwa”. Ali cada um acende uma fogueira, junto da qual se senta. As fogueiras são ateadas em volta e perto do cercado, excepto na parte destinada aos “tundandji”, operadores e “’ikolokolo”. A fogueira do operador-chefe situa-se ao pé da casa da “Na Tchifwa”, a dos “tundandji” e seus “’ikolokolo” junto do “nganga-mukanda”, de forma a que este os veja constantemente.
As fogueiras dos casais são acesas pelas mulheres e a dos “Tundandji” pelos “ikolokolo”; aos candidatos, nenhum trabalho é permitido fazerem na véspera da circuncisão, a fim de evitar qualquer ferimento, com o qual já não poderiam entrar na mukanda, no dia seguinte.
Entretanto começam a ouvir-se os sons ensurdecedores do “tchinguvu”, acompanhados dos “ngoma” (tambores) e do “mukakala” anunciando o começo da “tchisela” (dança da circuncisão).
A “tchisela” é a dança propiciatória da circuncisão, que não se pode dançar sem mulheres. Nesta dança todas as brincadeiras são permitidas; não há maridos nem esposas, apenas homens e mulheres. Cada qual tem liberdade de dançar, agarrar, apertar ou apalpar outrem do sexo oposto de quem goste. Por conseguinte, quem tiver “ukwa” (ciúme) de sua mulher, que vá para casa ou se deixe ficar junto da fogueira, a fim de não provocar qualquer desordem ou querela que possa vir a prejudicar a festa e a alegria dos outros.

Preces e actos pré-operatórios

Logo que nasce o dia, acaba a “tchisela” com todas as suas liberdades, começando outra música, outro ritmo – a “tchianda” ou “kapindjisa”, o batuque de todos os dias, só para dançar.
Logo que nasce o sol, o chefe da aldeia, acompanhado de todos os “tundandji”, dos familiares deles e dos operadores, vai junto da “tchipanga” (cercado) rezar a todas as “mahamba” (ídolos), “miombo” (árvores tutelares da aldeia), e espíritos dos seus antepassados representados por montículos de terra, junto dos “miombo”. Implora-lhes para que tudo corra bem na circuncisão, para que livre os “tundandji” de toda e qualquer doença, feitiço ou mal, e para que os tomem sob sua protecção. Esta prece é precedida e finalizada com a acção de graças de todos os presentes, que se acocoram atrás do chefe.
Tal acção de graças que eles designam de “kusakwia” (agradecer), consiste em tocar com as pontas dos dedos na terra, e em bater as palmas em seguida, acompanhando estes dois gestos com as palavras: “nga byu” (frase de acção de graças).
Acabada a prece, os “tundandji”, acompanhados do “mukichi” e dos operadores, vão buscar a anciã “Na Tchifwa” à aldeia e levam-na à casa construída no recinto da “tchifwa”, onde toda a gente que não foi assistir à prece continua dançando.
Entretanto, os operadores, acompanhados dos seus ajudantes e do “mukichi”, vão abrir outra saída no cercado, do lado oposto à única entrada que até então existia, virada para a aldeia, por onde sairão depois com os “tundandji”, a fim de procederem ao corte dos prepúcios.
Feito isto, abrem caminho através do capim, numa extensão de cem metros, aproximadamente, no terminus do qual, cada ajudante capina uma pequena área com pouco mais de um metro de diâmetro, onde se sentará cada qual com o “kandandji” que lhe foi designado. De todos estes círculos destaca-se o do “tfumba kambungu” (chefe dos “tundandji”), título este que cabe sempre ao parente mais próximo do chefe da aldeia. Ao centro do círculo é aberta uma pequena cova, e sobre esta é colocado um pedaço de pano vermelho, encimado por uma pele de “chimba” (cerval de cor preta) – símbolo da nobreza infantil.
Acabados os círculos, que serão tantos quantos os rapazes a operar, os ajudantes fazem um pequeno muro de terra, que servirá de banco, onde os circuncidados se sentarão, a fim de serem tratados, todos juntos, no final da operação. A este muro de terra dão o nome de “hanga”.
Findo este trabalho, os operadores indicam aos ajudantes qual o rapaz que é destinado a cada um e que deverá ser segurado. Voltam depois todos à “tchifwa”, onde os pacientes esperam.
Logo que chega ao recinto, o operador-chefe entoa a canção anunciadora do começo da operação. Esta canção, que é secundada por todos os acompanhamentos, reduz-se a uma palavra.
O operador canta: - “Musaswe, musaswe”.
O coro responde : - “woho! Musaswe”.
Ao ouvir esta canção, que significa o mistério e o flagelo da “mukanda”, acaba a dança, começando os choros das famílias dos “”tundandji” especialmente das mulheres e dos próprios rapazes, a quem aquela palavra provoca um pavor tétrico.


Tal pavor resulta deste rito não ser rodeado de mistério, por todos os homens e adolescentes já iniciados, e às mulheres e crianças ser vedado tal segredo.
Cantando sempre a mesma canção, Acompanhada da “ngoma” e “tchinguvu”, os “tundandji” e o “mukichi” vão apanhando algumas folhas dos ramos de árvores com que foi feito o cercado da “tchifwa” e deitam-nas dentro do “lwalu” (bandeja feita de leanas), que o operador-chefe segura. Após ter dado a volta ao recinto, pela parte de fora, entram novamente na “tchifwa”. Em seguida, o operador despeja as folhas apanhadas , no “tchino” (almofariz), que está ao centro do local onde se efectuou a dança. Então, o “mukiche” pega no pilão e tritura-as.
Findo este ritual, cada ajudante do operador coloca-se atrás do paciente que lhe destinaram, agarra-o por um braço ou põe-no às costas e, sem mais delongas, leva-o para o círculo que capinou. Seguem-nos os operadores, que se diferenciam do resto do pessoal por uma pena de uma ave espetada no cabelo, por um risco de barro vermelho, feito longitudinalmente, de uma têmpora à outra, passando sobre os olhos e raiz do nariz. O “mukichi” encerra o cortejo e guarda o local da operação, para evitar que qualquer pessoa, alheia ao rito, profane o recinto da circuncisão.
Entretanto, e logo que os “tundandji” são levados, as mães despojam-se dos cintos, tal como fazem sempre que se deitam com o marido. Ajoelhadas em volta do “tchino” (almofariz) sagrado, onde as folhas foram pisadas pelo “mukichi”, ali ficam em profundo recolhimento, com as mãos unidas sobre as pernas, enquanto as lágrimas lhes rolam pelas faces. Entrementes, todos cantam e dançam ao som dos tambores já referidos, para abafar os possíveis gritos de terror e o choro dos operados, que vão sendo despojados das suas vestes durante o trajecto, antes de chegarem ao local já descrito.
A dança só finda à tarde, muito depois de ter terminado e ser anunciado que tudo correu bem.


Operação e actos pós-operatórios

Logo que o local está preparado, os “ikolokolo” sentam-se sobre o círculo capinado. Com eles ficam, sentados e presos, à sua frente, os “tundandji” a operar, com as pernas abertas, seguras pelas do seu “tchikolokolo”. Com os braços, prendem-lhes o tronco, os membros superiores e a cabeça, virada para o lado, a fim de não verem a operação. Esta era feita sem anestesia e assepsia. 
Logo que termina a operação, o pai de um iniciado, ou qualquer outro familiar, anuncia o feito com uma espingarda. Aos “tundandji” é vedado olharem para o poente e para o local onde foram operados. Os operadores, seus ajudantes e os homens da aldeia reunidos, cantam e dançam ao som das “ngoma” e do “tchinguvu”, para ali transportados:
- “”Ako koma tu-ikanga; mulonga wahua, woho!”
(Aqui viemos a esta coisa: a complicação acabou, woho!)
Esta dança é iniciada pelos adolescentes que deixaram a “mukanda” no ano anterior e que para ali se dirigiram, acompanhados de todos os homens da aldeia, logo que ouviram os tiros, anunciando o final da operação. Entretanto, as mulheres recolhem às suas casas, incluindo as mães que estavam ajoelhadas em recolhimento, bem como as crianças de ambos os sexos.
Os “”ngalami”, ou seja os iniciados do ano anterior, um por um, ensaiam alguns passos de dança, ao mesmo tempo que um dos circunstantes canta:
_ “zembele-nu kanda kuhwa” (dançai que ainda não acabou).
Após os “ngalami” terem dado os seus passos de dança, os “ikolokolo”, um por um, vão dançar, regressando novamente para junto do respectivo “kandandji”.
Para acalmar a agitação causada pelo medo, o ajudante coloca sobre a cabeça do paciente um pouco de lodo. Para fazer parar o sangue, põe sobre o golpe, depois de o lavar, um pouco de pó contido nas cabacinhas do “nganga-mukanda”e proveniente de determinadas plantas.
Depois dos “ïkolokolo”, sempre um de cada vez, vão todos os “ïfunguje”, seguidos dos operadores, dançar em frente da “masasa”onde, do lado oposto, está o “nganga-mukanda-chefe”, que operou o “kandandji-chefe”.
Além das personagens atrás mencionadas, podem dançar todos os homens que ali se encontrarem, também cada qual por sua vez. Encerra o ritual o operador chefe e sacerdote, que dança empunhando duas facas da circuncisão, uma em cada mão, tal como os operadores que o precedem.
Ao mesmo tempo canta:
-“Tchikanza tcha mukanda” (o cesto das facas da circuncisão!)
Ao que todos respondem em coro:
-“Neia tchikalo tcha ku-kwata ka nawa” (Também é uma coisa difícil que é necessário segurá-la bem).
Com esta canção acaba a cerimónia depois do operador chefe ter posto o pé sobre a pele da “ngoma”, através da “masasa”.
Finda a dança de acção de graças aos espíritos e ídolos, o sacerdote vai junto dos “tundandji”, começando pelo “kandandji-chefe”, põe, a cada um, um bocado de pó contido nas cabacinhas, sobre a lâmina de uma faca de circuncisão, apresentando-lhe esta, à altura da boca, para que ele sopre.
Ao mesmo tempo que o circuncidado sopra, o sacerdote pergunta-lhe:
-“Wa-twia yia?” (quem é que te substitui?)

Então o iniciado responde, dando o nome de qualquer criança do sexo masculino que não tenha sido circuncidado.
Após esta cerimónia. cada “tchikolokolo”, começando pelo primeiro da direita, põe no chão, junto aos pés do seu discípulo, o salário devido ao operador. Depois de este o ter apanhado, procede de igual modo com o salário do ajudante. Após terem levantado a importância respectiva, os operadores retiram-se, à excepção do operador chefe, pois este tem de dar um “musenge”(copo) de “walua” (cerveja de milho) a cada um dos circuncidados. Em seguida, ordena aos iniciados que vão agarrar o “mukichi”, de que tanto medo tinham.
Então, os mais afoitos, secundados pelos restantes, vão-se aproximando, embora receosos, visto que o mascarado, com um “njango” (catana) em cada mão, lhes diz:
“Não vos aproximeis, pois se o fizerdes, corto-vos a cabeça”.
Entretanto, o operador chefe e os “ïkolokolo” incitam-nos a que o desmascarem e não tenham medo.
Perdendo então o receio, acercam-se, rodeiam o “mukichi”, tiram-lhe a máscara e vêem, com grande espanto, que, afinal, é um homem conhecido de todos.
Descoberto o “mukichi”, o operador chefe canta:
-“Ya swamina” (aquele que estava escondido, secreto)
Ao que todos respondem:
-“Ya soloka” (apareceu, foi desmascarado).
Depois disto, acompanhados dos seus enfermeiros-professores, vão sentar-se à sombra da maior árvore que ali houver, esperando a primeira refeição do dia, enquanto os “ïkolokolo” começam imediatamente a construção das palhotas onde naquela mesma noite, os iniciados dormirão.
Depois da cicatrização da ferida, sentados à sombra da árvore escolhida, ali esperam que o “nganga-mukanda”lhes traga a galinha que ele próprio matou e que a “Na Tchifwa” assou, acompanhada do "xima"  Funje ,  também por ela preparado.
Os iniciados terão de dormir três noites ao ar livre, após o que passam a dormir, três a três, com os respectivos professores, dentro das palhotas entretanto construídas. Cada uma destas palhotas é provida de três camas. Na cabana destinada ao iniciado chefe, a cama do meio pertence a este; aos outros dois iniciados, que dormem de um e de outro lado dele, dão o nome de “kundo” (ajudante ou conselheiro).


Adoração ao sol e refeições

No dia seguinte, ao romper do dia, os ”tundandji” sentam-se virados para o nascente. Assistem nesta posição ao raiar do Sol para que este lhes dê fecundidade e grande potência sexual. Assim se mantêm até que os primeiros raios solares sejam visíveis. Nesse momento, todos se levantam e olham o Sol, com as pernas cruzadas e a mão esquerda no umbigo; voltam à anterior posição logo que o disco solar se observa completamente, e assim permanecem até cerca das 9 horas. A essa hora, um dos professores, que está atrás deles, canta:
-“Kwatcha Kwatchéé” (amanheceu, é dia claro)
Então os iniciados respondem em coro:
-“Woho! Kwatchée” (oh! O dia é claro)

Depois do tratamento, um dos professores diz:
-“kwilu hi kwatcha” (o dia está claro).
Nessa altura é servida aos “tundandji”” a primeira refeição do dia.
As refeições são sempre tomadas em conjunto; para isso, os “tundandji” formam em linha, voltados para leste, tendo o recipiente da comida atrás de si. Deste recipiente tiram-na, aos poucos, para o prato ou tampa da “musaka”, que têm à sua frente, sem olhar para o Poente.
Se, por acaso, durante a refeição, qualquer dos iniciados deixar cair um bocado de comida para o chão, todos eles deitam fora todo e qualquer alimento que tenham à sua frente.
Antes de iniciar qualquer refeição, os “tundandji” são obrigados a deitar fora um “ndambalo” (O “ndambalo”, que os circuncidados cortam dos ramos de uma árvore denominada “mwanga”, é um pauzinho com dois ou três centímetros de comprimento e da grossura de um palito, aproximadamente) e a colocar outro atrás da orelha direita. No final do repasto procedem de igual forma.
Desde que tomam a primeira refeição até cerca das 17 horas, é que os iniciados estão livres da adoração ao Sol e de qualquer outro ritual. Chegada, porém, aquela hora vespertina, que um dos “ikolokolo” assinala, todos voltam à posição que tinham quando o Sol nasceu, e com o respectivo “ndambalo” atrás da orelha direita. Esta posição será mantida sob o maior silêncio e em profundo recolhimento, até que um dos professores lhes ordene que se levantem, a fim de cantarem o louvor ao Sol. Então o professor entoa:
- “kwa-toke” “kwa-toke” (desapareceu, desapareceu o Sol)
Respondem os “tundantche” em coro:
-“woho! Kwa-toke” (oh! Ele desapareceu).
No mesmo momento, o professor atira um pauzinho para a frente a fim de lhes dar o sinal para que deitem o “ndambalo” fora; este é sempre lançado na direcção do oriente, isto é para o lado que nasce o Sol e, com ele, o bem e a vida; o poente, pelo contrário, é sinónimo de mal e da morte.
É esta a razão pela qual os iniciados se consagram ao Sol – “Sá Nganga”, rei e senhor dos feiticeiros, dos ídolos, dos espíritos e do Universo inteiro – para que lhes dê vida e saúde e os torne fecundos.
Finda a adoração e canto de louvor ao Sol, os “tundantche” ficam livres de qualquer ritual até que os galos cantem pela primeira vez.
Porém, sempre que pretendam comer ou beber, é-lhes vedado fazê-lo, sem que coloquem ou deitem fora o “ndambalo”, no início ou no final daqueles actos.
De madrugada, antes que os galos cantem, o primeiro que acordar, professor ou aluno, chama todos os outros. Então, os “tundandji” vão para junto da porta da palhota e abrem-na. Ali, com o “ndambalo sobre a orelha, tomam a posição sentada, como se fosse de adoração ao Sol, e assim permanecem até que os galos cantem na aldeia.
Mal ouvem o primeiro canto do galo, todos saem imediatamente para fora das palhotas, cujas portas estão também viradas para Oriente; ali, de pé e alinhados, em saudação ao Sol com a mão direita, todos ao mesmo tempo , atiram para a frente o “ndambalo”’, exclamando: - “woho”. Feito isto, mantêm-se naquela posição até que os galos cantem, pela segunda vez. Logo que isto sucede, com a mão esquerda atiram para a frente o “ndambalo” da orelha do mesmo lado, acompanhando este gesto com a mesma exclamação: “woho!”.
Esta cerimónia é de louvor ao galo, para que lhes dê potência sexual, exactamente como ele possui. Após isto, vão deitar-se novamente, até ao romper da alva, hora a que, se não acordarem, são acordados pelos professores, para a adoração ao Sol, logo que este desponte.
Convém notar que, sempre que procedem aos rituais de adoração ao Sol ou ao galo, os circuncidados não podem ver o fogo, porque isto poderia torná-los estéreis, sentando-se, por esse motivo, de costas para as fogueiras.
Durante os intervalos dos rituais, são-lhes ensinadas as danças e canções que executarão logo que estejam curados e após a construção da “tchisakia” e da “mukanda”.



in:http://www.culturalunda-tchokwe.com/

sábado, 9 de julho de 2011

Miss Lunda Norte 2011

Celsa Issassa, de 19 anos de idade, foi eleita Miss Lunda-Norte 2011, no concurso realizado recentemente no Dundo. A gala de eleição contou com a presença do governador provincial, Ernesto Muangala, e teve a participação de 13 candidatas que disputaram a coroa de mulher mais bela da província, mas foi a beleza e cultura geral de Celsa Issassa que convenceu o pÚblico presente e o corpo de jurados. A miss disse que a prioridade do seu mandato é a luta pela dignificação das crianças e dos jovens desfavorecidos e pela sua inserção na sociedade. “Tenho visto a pobreza de perto, por isso, vou trabalhar neste projecto para ajudar”, frisou, pedindo a colaboração de todos. A miss Lunda-Norte, recebeu como prémios um automóvel, 7.500 dólares norte-americanos, um guarda-roupa no valor de cem mil kwanzas, uma máquina de lavar, um televisor plasma, uma máquina fotográfica digital e uma viagem pelo interior do país. A gala elegeu igualmente Nádia José primeira dama de honor e Ilda Rosa Lopes como segunda dama e também miss simpatia. O prémio de miss fotogenia foi atribuído a Neide Carla Ngunza. A cerimónia foi animada pelos mÚsicos Conde e Yola AraÚjo que souberam mostrar aos presentes o quanto valem.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Direitos e Deveres das Pessoas Dependentes "Chefe Tchokwe"

De acordo com J.V. Martins ‘’’’O novo chefe não possui qualquer domínio especial sobre a viúva ou viúvas que o seu antecessor deixou, a não ser o de chefe, tal como sobre todos os outros membros da aldeia, clã ou etnia, salvo se a viúva pertencesse às etnias patrilineares Baluba e Lulua e que tivesse sido comprada antes da celebração do casamento. Neste caso, o novo chefe nem sequer manda na viúva quando ela regressa ao seio de sua família, do seu clã e da sua etnia, a menos que ela decida integrar-se com seus filhos na povoação, no clã e na etnia do seu falecido marido. Só neste caso ela e os filhos se tornam dependentes do novo chefe.

Por outro lado, a viúva não é obrigada a casar com o sucessor nem com qualquer parente do falecido marido. No entanto, ela será considerada dependente, como se fosse herdada pelo sucessor, devendo este olhar por ela se já for de idade avançada e não tiver qualquer protector masculino, tal como filhos, sobrinhos ou irmãos. Se a viúva fosse escrava então pertencia legalmente ao sucessor. Poderia casar com ela ou dá-la a um seu parente.

A herança da viúva é, para todos os efeitos legais, um novo casamento dela com o sucessor do falecido marido ou com qualquer parente dele. Só que, normalmente, neste caso, se o sucessor ficar com ela, não é obrigado a fazer qualquer pagamento nem a prestar qualquer serviço ao pai dela, nem a qualquer outro protector da viúva. Mas se o herdeiro não for o próprio sucessor, então o futuro marido, embora menor, terá que pagar o tchihako (prenda de casamento) para casar com ela.

Os filhos nascidos do novo casamento, tal como os de qualquer outro casal, pertencem sempre à família, clã e etnia da mãe, atendendo à regra matrilinear, na etnia Tchokwe.’’’’



in: culturalunda-tchokwe

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Parabéns Lunda Norte

A Lunda Norte é o resultado da divisão da então Província da Lunda, criada enquanto distrito, no final do séc. XIX, precisamente a 13 de Julho de 1895 pelo regime colonial português. A criação do distrito da Lunda esteve estritamente ligada à questão dos diamantes, recurso este que superaria a cera e a borracha que inicialmente interessavam aos portugueses nas terras de Muatianvua. Com a capital em Henrique de Carvalho, hoje Saurimo, as autoridades coloniais desenvolveram progressivamente a indústria mineira na Lunda com maior incidência no extremo nordeste da região.Embora os trabalhos de pesquisa tenham sido oficialmente criados a 4 de Setembro de 1912, com a constituição da PEMA (Companhia de Pesquisa Mineira de Angola), foi em Novembro do mesmo ano que os prospectores ligados à Forminiére descobriram sete diamantes no ribeiro Musalala, afluente da margem direita do rio Chihumbue, próximo da cidade do Dundo.Estes trabalhos evoluíram e fizeram surgir uma grande empresa de explorações mineiras, a Diamang em 1917 e depois a Endiama em 1984, respectivamente.Por razões estratégicas e político-administrativas, também ligadas a produção diamantífera, o Governo decidiu pela divisão da então Província da Lunda em duas. Assim, ao abrigo do Decreto Lei n.º 86/78 de 4 de Julho surge a Lunda-Norte repartida em 9 municípios (Chitato, Cambulo, Lucapa, C. Camulemba, Cuilo, Cuango, Lubalo, Xá-muteba e Caungula) e 25 comunas, tendo como capital a cidade de Lucapa, sendo que na altura havia a perspectiva de construção de uma nova cidade capital.Tendo o processo de construção da nova cidade capital se tornado inviável, por questões financeiras e da guerra que assolava o país. Considerando a dimensão, o traçado arquitectónico e a importância económica que a cidade do Dundo encerra, esta foi assumida como capital de facto da província da Lunda- Norte.A Lunda-Norte está limitada à norte e à Leste com a República Democrática do Congo, à oeste com a Província de Malange e a sul com a província da Lunda-Sul. Tem uma superfície de 103.760 Km2 e uma população estimada em 800 mil habitantes.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Direitos e Deveres dos Filhos "Chefe Tchokwe"

Segundo J.V. Martins, ‘’’’De acordo com o direito costumeiro Tchokwe, o tchihako (prenda de casamento), assim como os serviços prestados aos sogros, só lhe conferem direitos sobre a esposa, mas não o legal direito de custódia dos filhos nascidos do casamento. Isto porque o katchokwe não paga a mulher quando casa, mas apenas dá uma prenda aos sogros. Por isso, toda a descendência do casamento pertence ao clã da mãe. Quem tem a custódia sobre a descendência do casal é o tio materno, filho da irmã mais velha. O pai é apenas o progenitor.

O homem pode divorciar-se da mulher se ela for estéril e pedir uma irmã ou outra mulher para ele provar que é fecundo, mas se a esposa morrer, então ele terá de pagar aquilo que a família da esposa exigir se ela for fecunda e lhe der descendência. Se a esposa for estéril, o marido tem o direito a receber tudo o que pagou, aquando da união matrimonial.

No caso de dissolução do casamento, não há grandes problemas, já que de acordo com o direito Tchokwe, em caso de divórcio ou morte do pai, os filhos pertencem e vão, geralmente, para a família da mãe, excepto se algum dos filhos quiser acompanhar o pai, o que é raro.’’’’

in: culturalunda-tchokwe

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Direitos e Deveres da Viúva "do Chefe Tchokwe"

De acordo com J.V. Martins, ‘’’’Logo que o marido morre, ela deve segurar a cabeça dele no seu regaço e chorar até que alguém retire o cadáver junto dela e lhe diga para se sentar junto da porta da sua palhota ou casa. Ali ficará sem comer nem beber, enquanto o defunto não for enterrado.
Após o enterro do finado não poderá tocar no fogo. Outra pessoa do mesmo sexo a alimenta a ela e à fogueira, defumando-a com o fumo de plantas mal cheirosas e resinas para afugentar dela o espírito do morto.
Depois de já se ter despojado de todas as suas vestes e adornos, substitui-os pela mulamba (tanga apertada para apertar apenas as partes pudendas).
Também não deverá dormir enquanto o seu defunto marido não for enterrado.
Quando o cadáver transpõe a porta da palhota e é levado para ser sepultado, a viúva deverá passar por baixo dele. E, enquanto o falecido vai ser enterrado, a viúva deverá ir tomar banho purificador ao ribeiro mais próximo, acompanhada de outra viúva ou de outra mulher, se não houver nenhum elemento feminino em estado de viuvez na povoação.


Depois do banho purificador, a viúva tem direito a regressar à aldeia do finado e a receber de um seu familiar, um galináceo e uma conta de missanga vermelha enfiada num fio e que simula uma pulseira. Esta é-lhe colocada no pulso esquerdo.

Entretanto, aproxima-se dela um parente do falecido, do sexo masculino, empunhando um ramo de arbustos verdes a arder e defuma com ele a viúva, pedindo, ao mesmo tempo, ao espírito do finado que não faça mal à viúva e a deixe em paz.
Terminada esta prece, a viúva entrega o galináceo e a pulseira que simboliza o defunto e diz ao parente deste: recebei o vosso morto. E, feito isto, a viúva fica liberta do defunto marido e do espírito deste perante a família do falecido, ficando, portanto, dissolvido o contrato do casamento.
A viúva tem direito a recolher os produtos cultivados, a cultivar as terras desbravadas, e a todos os cereais e outros armazenados e/ou em sequeiro, assim como ao trem de cozinha e todo o mobiliário existente na sua casa, onde vive com os seus filhos já que, normalmente, o chefe tinha a sua própria casa com diversos quartos, onde poderia dormir com a mulher ou, se preferisse, poderia ir dormir a casa dela. Mas, como o novo chefe muda sempre para uma nova povoação, quer a viúva seja herdada ou não, e mesmo que ela não queira ser herdada, o novo chefe é obrigado a mandar construir nova palhota ou uma nova casa para ela, se não tiver filhos, sobrinhos ou irmãos que lha construam e se quiser ficar na nova aldeia onde vive o novo chefe. De contrário, poderá regressar à aldeia do seu clã. No entanto, só poderá casar depois de passadas três luas, pelo menos, e depois de ter tido relações sexuais com qualquer homem estranho e que desconheça o seu estado de viuvez, à procura de tirar o espírito do seu ex-marido do corpo e ficar liberta dele para sempre. Ela terá de seduzir o homem a quem se entrega de forma a que ele não saiba a razão porque ela o faz. Isto porque esse homem poderá vir a ser atormentado pelo espírito do falecido que estava no corpo da viúva e que dela sai no acto sexual, se ela não deixar que o esperma do homem seduzido penetre na sua vagina. De contrário, não ficará purificada. Logo que o conseguir, tira o cordel que traz à cintura e deixá-lo-á no local do coito. Feito isto, vai imediatamente tomar banho ao ribeiro mais próximo e fica, então, apta a consorciar-se de novo com quem ela e a família quiserem. Tratando-se de pfwo rya ulo (mulher de fora), o contrato de casamento é imediatamente dissolvido e os parentes do finado são obrigados a entregá-la sã e salva na aldeia, clã ou etnia a que ela pertence.’’’’

in:culturalunda-tchokwe
Foto: Diamang

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diamantes na Lunda

As autoridades coloniais desenvolveram progressivamente a indústria mineira na Lunda com maior incidência no extremo nordeste da região.Embora os trabalhos de pesquisa tenham sido oficialmente criados a 4 de Setembro de 1912, com a constituição da PEMA (Companhia de Pesquisa Mineira de Angola), foi em Novembro do mesmo ano que os prospectores ligados à Forminiére descobriram sete diamantes no ribeiro Musalala, afluente da margem direita do rio Chihumbue, próximo da cidade do Dundo.Estes trabalhos evoluíram e fizeram surgir uma grande empresa de explorações mineiras, a Diamang em 1917 e depois a Endiama em 1984, respectivamente.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Direitos e Deveres do Novo Chefe "Tchokwe"

  • Nota: "Os artigos relacionados com a morte e sucessão do Chefe Tchokwe, foram publicados em 15 de Março de 2011"


Segundo J.V. Martins ‘’’’De acordo com o direito tradicional, o sucessor do chefe falecido herda todos os direitos, deveres, créditos e dívidas deste. Herda, também, o título de Mwanangana (nobreza do senhorio).
Recebe o lukano, que lhe é colocado no braço esquerdo, assim como o colar com a Tchimba e o Mukwali.

A Lukosa ou Lukano representam o centro do mando e poder, a Tchimba é o símbolo da dignidade, nobreza e poder, e o Mukali (gláudio) representa a justiça, visto ser com ele que era aplicada a pena de morte, além de servir como arma geral de defesa do próprio chefe.

Além dos três símbolos atrás mencionados, todos os chefes possuem uma lança e gorros ornamentados com missangas de diversas cores. O novo chefe herda também, a cadeira ou trono e a pele de leopardo para pôr sobre ela os seus nobres pés durante as audiências.

Pode-se, pois dizer, que a sucessão posicional e social é completa e total.

O sucessor herda o nome do seu predecessor e sucede-lhe também no status e posição social do falecido. Fica com o mesmo título ou denominação de parentesco que o falecido possuía. Ele é também designado para executar todos os deveres rituais do seu predecessor, isto porque a sucessão ao nome do chefado está associada com o poder de invocar os espíritos dos seus ancestrais.

O novo chefe herda todo o poder que o falecido tinha, tornando-se dono e senhor de todo o território do seu chefado, tanto das terras e suas makuna (reservas de caça), como dos rios, ribeiros e itende (lagoas, lagos, pântanos e terras alagadas). Ele tinha direito de propriedade sobre tudo o que existia no seu chefado, incluindo sobre todos os seus súbditos e todas as culturas feitas por eles.

Antigamente, tinha direito de primícias sobre todas as culturas e recolecção de frutos, bem como sobre a caça e a pesca, razão porque os seus súbditos lhe ofereciam as partes dos animais abatidos que lhe pertenciam e dos peixes que pescavam.

As palhotas eram queimadas, mas depois dos novos aldeamentos, o chefe sucessor herdava também a casa do falecido depois de desinfectada, caiada ou pintada e, neste caso, o sucessor pode herdar a casa porque pertencia ao chefe seu antecessor que era seu tio materno, já que a herança se efectuaria sempre colateralmente, isto é do tio materno para o sobrinho filho da irmã mais velha.

No entanto, embora o novo chefe herde toda a propriedade do chefado, incluindo as mulheres que pertencem ao seu clã, ele pode ficar com elas ou dividi-las com os seus parentes masculinos, se elas estiverem de acordo. Se for pfwo rya ulo (mulher de fora, doutro clã ou doutra etnia), pode não querer ser herdada e regressar ao seio da sua família com todos os bens móveis que obteve durante a sua vida de casada, salvo se tiver sido comprada pelo falecido a uma outra etnia.

De qualquer forma, as mulheres e os filhos destas herdam todos os bens móveis, todo o dinheiro que possuam assim como todas as culturas de que sejam donas, à morte do falecido marido. Por isso, pode dizer-se que, embora o novo chefe seja herdeiro universal, não o é de facto, totalmente, mas divisoriamente, visto que há mais de uma pessoa legalmente titulada a uma parte dos bens intestados.

O sucessor herda, pois, a maior parte dos bens deixados pelo antigo chefe defunto e todo o território do chefado, mas também é o primeiro responsável pelas dívidas a terceiros. Mas, se o novo chefe não dispõe de bens materiais para satisfazer as dívidas que o seu antecessor deixou, então serão os seus irmãos, os seus sobrinhos, os filhos das suas irmãs ou até mesmo os filhos do finado que poderão ser citados pelos credores.

Normalmente, a pessoa ou pessoas que herdam o dinheiro deixado pelo finado é que são responsáveis pelas dívidas deixadas pelo falecido, mas, de qualquer forma, todos os parentes mais chegados do falecido são forçados a pagar as dívidas por ele deixadas, com os seus próprios bens pessoais, visto que a sucessão entre os Tutchokwe não estar sujeita ao benefício do inventário, mas porque todos os familiares são solidários tanto nos lucros como nas dívidas.

No entanto, podemos dizer que entre os Tutchokwe, o sucessor e novo chefe é a personalidade legal do falecido, gozando dos mesmos direitos, mas também fica sujeito aos mesmos deveres do seu antecessor, após a morte deste.

Quando há mais dívidas que bens, o que geralmente não sucede, o novo chefe é responsável e pode ser citado para satisfazer todas as reclamações sobre os danos herdados.

Primitivamente, poucos eram os bens que qualquer falecido deixava quando morria e quase todos eles eram de carácter temporário, tais como armas brancas ou de fogo, arcos e flechas e armadilhas que revertiam a favor do seu sucessor. As colheitas eram pertença da viúva ou viúvas que eram herdadas.

Alguns bens pessoais poderão ser dados aos filhos do falecido, muito embora eles não sejam considerados como membros de linhagem, nem da família do pai, posto que os herdeiros são sempre os sobrinhos, filhos da irmã mais velha, como sucede em todas as etnias de linhagem matrilinear.’’’’

Fonte:culturalunda-tchokwe

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Origem do Nome da Etnia Tchokwe (segundo J. V. Martins)

Pelos relatos de Henrique de Carvalho, os povos do Nordeste de Angola devem ter vindo da região dos grandes lagos, corroborando a história contada por alguns velhos Tutchokwe e Lundas, os quais dizem que os seus ancestrais terão vindo dos lados de Nordeste, onde havia grandes montanhas geladas e um grande “Kalunga Ka Meya” (mar ou lago grande). Dizem eles que os Lundas descendem directamente do Nzambi e que todas as outras tribos negras descendem deles e praticam o sistema matrilinear.

Quanto à origem do nome “Tchokwe” ou Quiôco, os nativos da região terão contado a Henrique de Carvalho que o nome não existe na língua deles. Deve ter sido dado pelos Kimbundos, pois são os únicos que os tratam por “Quiôcos” em vez de “Tutchokwe”, como eles se intitulam e como são tratados pelos outros vizinhos. “Katchokwe” indica um elemento de nome colectivo e forma o plural “Tutchokwe” para indicar mais de um elemento da colectividade, enquanto “Utchokwe” designa a língua dos Tchokwe. A razão porque, em Kimbundo, se diz “Quiôco” em vez de “Tchokwe” deve estar relacionada com a mudança do prefixo da 3ª classe TCHI em KI, visto que em todas as palavras que em Tchokwe começam com o prefixo TCHI, este é traduzido em Kimbundo pelo seu correspondente Ki. Sendo assim, é de supôr que seja o mesmo vocábulo, embora pronunciado de maneira diferente, isto é, adaptado à língua Kimbundo. Em Utchokwe, dir-se-ia “ie-nu-naua a ku kinguri” – ou então, falando deles: “aya-kwo a ku kinguri”; e em Lunda “aiu kuau (que vão eles para, ou com, o “kinguri”). No entanto, como pode ter evoluído esta forma de expressão, é muito natural que, antigamente, se expressassem na 3ª pessoa do conjuntivo presente do verbo “ku-ya” (ir) “a-yo” em vez de “a-ya”, e que a forma comitativa “kwo” (com eles), tivesse sido mal pronunciada pelo intérprete ou pessoa que contou a história, e, assim, devido a uma má pronúncia, tivesse sido transformada; da união dos dois vocábulos num só pode ter derivado o vocábulo “woko”, que designa “aquele que vai e não volta”. 

Pode ainda indicar-se outra hipótese, a de “ku-tchoka” (verbo que significa ultrajar, amesquinhar, troçar, avassalar ou menosprezar), derivar do vocábulo “Tchokwe”, ou este do primeiro. Nesta hipótese, poder-se-ia concluir que este nome lhes tenha sido atribuído pelas outras tribos, suas vizinhas, quando, em tempos remotos e, segundo afirmam, eram por eles guerreadas, avassaladas e escravizadas. Aos vencidos cortavam as cabeças, por cujos crânios bebiam depois o “maluvu” ou “walwa” (vinho de palmeira); como presas de guerra levavam as mulheres e as crianças. A ser verdadeira esta versão, dada por alguns nativos, o vocábulo deve significar “povo bárbaro, mau, guerreiro, avassalador”. Segundo os autores que vimos citando, ainda hoje os Tutchokwe consideram todas as outras etnias, à excepção dos Lundas, raças inferiores a quem apelidam de “tubinje” ou “tundaka” (escravos ou estrangeiros).

Nesta ordem de ideias, ocorre perguntar se teria sido a tribo que deu o nome ao “tchiboko” (país dos Tutchokwe), ou se teriam estes tomado o nome do local onde se instalaram, sob as ordens dos seus grandes chefes “Muambumba”, “Mwandumba” ou “Ndumba-wa-Tembo”, de onde teriam saído à procura e conquista de novas terras para norte e sul ?

Como é sabido, a tradição oral é uma fonte importante de conhecimento, mas também é, por vezes, falível, contendo informações inexactas.

Assim, a possível origem do nome da Etnia Tchokwe é um óptimo tema para a recolha de contribuições dos historiadores, antropólogos, etnógrafos e outros estudiosos, que queiram ajudar a elucidar este tema (e outros contidos neste site).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Adivinha Tshokwe VI


‘’Uhimwina wa mayanga. Ika?’’ (O que é o descanso do caçador?)‘’Makungunwa’’ (Os joelhos, visto que quando está cansado senta-se e põe as mãos nos joelhos).‘’Kachitu muka ma mu-lonzela ku suku, manyinga maya ku akatcheka?’’ (Qual é o bicho que se caça longe e o sangue vai para o outro lado?).‘’Mwelela’’ (As cinzas do capim queimado).