Lunda Tchokwe

Os Tchokwe / Chokwe desfrutam de uma admirável tradição de esculpir máscaras, esculturas e outras figuras. A sua arte inventiva e dinâmica, é representativa das várias facetas inerentes a sua vida comunitária, dos seus contos míticos e dos seus preceitos filosóficos. As suas peças de arte gozam de um papel predominante em rituais culturais, representando a vida e a morte, a passagem para a fase adulta, a celebração de uma colheita nova ou ainda o início da estação de caça. O nome Tshokwe apresenta algumas variantes (Tchokwe, Chokwe, Batshioko, Cokwe) e, entre os portugueses, ficaram conhecidos por Quiocos . "Nesta pagina podemos usar qualquer variante do nome Tshokwe (acima referido)"

Menu

Tradutor/Translation

terça-feira, 22 de março de 2011

Mwana Pwo

A Máscara Mwana Pwo é originária do grupo etnolinguístico Cokwe. Ela simboliza a mulher ou rapariga, sobretudo esta que floresce e garante a procriação, em suma a continuidade da sociedade na qual está inserida. Sob o ponto de vista da Cultura Cokwe, ela encarna a ancestralidade feminina.
A Máscara Mwana Pwo é exibida nas manifestações culturais, danças tradicionais do grupo étnico Cokwe, nas grandes manifestações culturais entre as quais a mukanda (circuncisão masculina). É feita em madeira esculpida nalguns casos pode ser feita de resina (raras vezes). Portanto, os homens que a usam, usam seis postiços e uma tira de pano que as cobre-o muya wa ciyanda (cito de ciyanda), tudo para simbolizar a mulher que tem e exerce um papel de destaque na sociedade Cokwe.
A mascara Mwanapwo é uma mascara viva, integrada na comunidade, faz-se presente em ocasiões especiais para educar, proteger e guiar os membros da sociedade Cokwe. Tal como nos referimos nos pontos anteriores, ela esta associada as cerimonias rituais de iniciação masculina ou Mucanda, onde desempenha um papel preponderante, a única mascara feminina da grande hierarquia das mascaras Cokwe é um intermediário entre os jovens iniciados ou tundanje (singular do Candaje) e as suas mães, das quais são separados por longos períodos. Na aldeia Mwanapwo apresenta-se dançando no terreiro, para entretenimento de toda a comunidade que celebra esta passagem.
Depositários da memória colectiva, aqueles mascarados que vivem na profissão de bailarinos, realizam exibições itinerantes pelas povoações vizinhas, ajudando a cantar a história do seu povo.
Fazendo parte do grupo das mascaras de dança Akixi a Kuhangana- durante a sua exibição, Mwanapwo da vida as noções espirituais de grande significância. O seu rosto, sabiamente talhado por um mestre dentro dos padrões estéticos da escultura Cokwe, é sempre a revitação de um rosto de Mulher por ele eleito, dada a beleza dos seus traços. Nesses rostos o escultor inscreve uma complexa representação de significados e simbolismo ligados a fecundidade, ao género e ao cosmos no nariz o traço Kacongo, sob os olhos e lágrimas ou masoxi, nas faces as marcas circulares lumba, no queixo a tatuagem mipila e na testa o motivo cruciforme que a distingue, ou cingelengele. Dançando de forma peculiar onde deve imperar a contenção e a elegância, executa pequenos movimentos, enfatizados na zona da cintura pelo uso do ‘'Cinto'' de dança Muaya wa cyanda.
A Mwanapwo cabe perpetuar as qualidades femininas consideradas pelos Tucokwe; a fertilidade, a beleza, a força da juventude e a delicadeza nas atitudes.
A sua dança afastada dos modelos convencionais do espectáculo teatral onde a coreografia é pré-estabelecida e as performances são ensaiadas, constitui uma forma de expressão e comunicação em renovação permanente que conjuga elementos infra-estruturais da vida social do grupo.
Por oposição, os passos são rigorosamente aprendidos e definidos para esta mascara. Um código privado inclui tudo o que se produz no domínio da improvisação o que correspondendo a momentos de criatividade pessoal do bailarino, torna esta gestualidade inacessível ou difícil de interpretar por indivíduos ou outros grupos culturais.
Mas as Mulheres Cokwe conhecem bem cada uma das alternativa de interpretação daquele gestual. As técnicas e os segredos inerentes as danças de mascarados são uma das áreas de conhecimento reveladas na Mucanda pelo que, este saber é absolutamente vedado as mulheres.
Assim se explica que dentro da mascara cujo uso é interdito ao sexo feminino, um homem iniciado de estatuto secreto e identidade desconhecida lhe de a alma e a forma humana que a torna inteligível para o mundo terrestre. Este desempenho masculino é, no entanto, aceite pelas mulheres Cokwe, que o reconhecem como uma homenagem ao seu papel primordial dentro da sociedade. Contudo, a actuação destes mascarados não as deve desapontar, o que pressupõe a obrigatoriedade de uma representação de modelo feminino correspondente as suas expectativas.
Deste modo, é frequente verem-se estes bailarinos profissionais dançar junto das mulheres, para com elas aprenderem os movimentos exactos, embora numa relação recíproca, essa mascara deve ser para as próprias mulheres o exemplo das regras e formas de comportamento social a seguir. Ao contrário do que acontece relativamente a quase totalidade dos mascarados, que as afugentam, as mulheres podem, portanto, aproximarem-se e interagir com o Mwanapwo.
Apesar dos grandes desequilíbrios provocados na sociedade Cokwe pelo contexto de guerra vivido no país, os mascarados continuam a fazer-se presentes agora, em tempos de paz, para partilhar a sabedoria ancestral com as novas gerações. Continuando a formar parte integral da visão que os Tucokwe tem do mundo, Mwanapwo integra, na sua forma e na sua essência, o grupo dos Akixi, que contribuem para a perpetuação das diligências sociais e culturais de transmissão de conhecimento colectivo para a negociação das grandes preocupações e aspirações humanas.
Validade apenas quando alguém a usa pois só o binómio mascara-bailarino é portador dessas forças "sobre-humanas" – Mwanapwo pode ser apreciada numa perspectiva de riqueza e complexidade artísticas, mais sem nunca as dissociar da sua capacidade para articular novas ideias, normas e valores.
Através dela se celebra a esposa, a irmã, a mãe e se declara a autoridade da mulher na sociedade Cokwe, talvez ainda numa remota homenagem a rainha Lweji.

Sem comentários: