Lunda Tchokwe

Os Tchokwe / Chokwe desfrutam de uma admirável tradição de esculpir máscaras, esculturas e outras figuras. A sua arte inventiva e dinâmica, é representativa das várias facetas inerentes a sua vida comunitária, dos seus contos míticos e dos seus preceitos filosóficos. As suas peças de arte gozam de um papel predominante em rituais culturais, representando a vida e a morte, a passagem para a fase adulta, a celebração de uma colheita nova ou ainda o início da estação de caça. O nome Tshokwe apresenta algumas variantes (Tchokwe, Chokwe, Batshioko, Cokwe) e, entre os portugueses, ficaram conhecidos por Quiocos . "Nesta pagina podemos usar qualquer variante do nome Tshokwe (acima referido)"

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Direitos e Deveres da Viúva "do Chefe Tchokwe"

De acordo com J.V. Martins, ‘’’’Logo que o marido morre, ela deve segurar a cabeça dele no seu regaço e chorar até que alguém retire o cadáver junto dela e lhe diga para se sentar junto da porta da sua palhota ou casa. Ali ficará sem comer nem beber, enquanto o defunto não for enterrado.
Após o enterro do finado não poderá tocar no fogo. Outra pessoa do mesmo sexo a alimenta a ela e à fogueira, defumando-a com o fumo de plantas mal cheirosas e resinas para afugentar dela o espírito do morto.
Depois de já se ter despojado de todas as suas vestes e adornos, substitui-os pela mulamba (tanga apertada para apertar apenas as partes pudendas).
Também não deverá dormir enquanto o seu defunto marido não for enterrado.
Quando o cadáver transpõe a porta da palhota e é levado para ser sepultado, a viúva deverá passar por baixo dele. E, enquanto o falecido vai ser enterrado, a viúva deverá ir tomar banho purificador ao ribeiro mais próximo, acompanhada de outra viúva ou de outra mulher, se não houver nenhum elemento feminino em estado de viuvez na povoação.


Depois do banho purificador, a viúva tem direito a regressar à aldeia do finado e a receber de um seu familiar, um galináceo e uma conta de missanga vermelha enfiada num fio e que simula uma pulseira. Esta é-lhe colocada no pulso esquerdo.

Entretanto, aproxima-se dela um parente do falecido, do sexo masculino, empunhando um ramo de arbustos verdes a arder e defuma com ele a viúva, pedindo, ao mesmo tempo, ao espírito do finado que não faça mal à viúva e a deixe em paz.
Terminada esta prece, a viúva entrega o galináceo e a pulseira que simboliza o defunto e diz ao parente deste: recebei o vosso morto. E, feito isto, a viúva fica liberta do defunto marido e do espírito deste perante a família do falecido, ficando, portanto, dissolvido o contrato do casamento.
A viúva tem direito a recolher os produtos cultivados, a cultivar as terras desbravadas, e a todos os cereais e outros armazenados e/ou em sequeiro, assim como ao trem de cozinha e todo o mobiliário existente na sua casa, onde vive com os seus filhos já que, normalmente, o chefe tinha a sua própria casa com diversos quartos, onde poderia dormir com a mulher ou, se preferisse, poderia ir dormir a casa dela. Mas, como o novo chefe muda sempre para uma nova povoação, quer a viúva seja herdada ou não, e mesmo que ela não queira ser herdada, o novo chefe é obrigado a mandar construir nova palhota ou uma nova casa para ela, se não tiver filhos, sobrinhos ou irmãos que lha construam e se quiser ficar na nova aldeia onde vive o novo chefe. De contrário, poderá regressar à aldeia do seu clã. No entanto, só poderá casar depois de passadas três luas, pelo menos, e depois de ter tido relações sexuais com qualquer homem estranho e que desconheça o seu estado de viuvez, à procura de tirar o espírito do seu ex-marido do corpo e ficar liberta dele para sempre. Ela terá de seduzir o homem a quem se entrega de forma a que ele não saiba a razão porque ela o faz. Isto porque esse homem poderá vir a ser atormentado pelo espírito do falecido que estava no corpo da viúva e que dela sai no acto sexual, se ela não deixar que o esperma do homem seduzido penetre na sua vagina. De contrário, não ficará purificada. Logo que o conseguir, tira o cordel que traz à cintura e deixá-lo-á no local do coito. Feito isto, vai imediatamente tomar banho ao ribeiro mais próximo e fica, então, apta a consorciar-se de novo com quem ela e a família quiserem. Tratando-se de pfwo rya ulo (mulher de fora), o contrato de casamento é imediatamente dissolvido e os parentes do finado são obrigados a entregá-la sã e salva na aldeia, clã ou etnia a que ela pertence.’’’’

in:culturalunda-tchokwe
Foto: Diamang

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diamantes na Lunda

As autoridades coloniais desenvolveram progressivamente a indústria mineira na Lunda com maior incidência no extremo nordeste da região.Embora os trabalhos de pesquisa tenham sido oficialmente criados a 4 de Setembro de 1912, com a constituição da PEMA (Companhia de Pesquisa Mineira de Angola), foi em Novembro do mesmo ano que os prospectores ligados à Forminiére descobriram sete diamantes no ribeiro Musalala, afluente da margem direita do rio Chihumbue, próximo da cidade do Dundo.Estes trabalhos evoluíram e fizeram surgir uma grande empresa de explorações mineiras, a Diamang em 1917 e depois a Endiama em 1984, respectivamente.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Direitos e Deveres do Novo Chefe "Tchokwe"

  • Nota: "Os artigos relacionados com a morte e sucessão do Chefe Tchokwe, foram publicados em 15 de Março de 2011"


Segundo J.V. Martins ‘’’’De acordo com o direito tradicional, o sucessor do chefe falecido herda todos os direitos, deveres, créditos e dívidas deste. Herda, também, o título de Mwanangana (nobreza do senhorio).
Recebe o lukano, que lhe é colocado no braço esquerdo, assim como o colar com a Tchimba e o Mukwali.

A Lukosa ou Lukano representam o centro do mando e poder, a Tchimba é o símbolo da dignidade, nobreza e poder, e o Mukali (gláudio) representa a justiça, visto ser com ele que era aplicada a pena de morte, além de servir como arma geral de defesa do próprio chefe.

Além dos três símbolos atrás mencionados, todos os chefes possuem uma lança e gorros ornamentados com missangas de diversas cores. O novo chefe herda também, a cadeira ou trono e a pele de leopardo para pôr sobre ela os seus nobres pés durante as audiências.

Pode-se, pois dizer, que a sucessão posicional e social é completa e total.

O sucessor herda o nome do seu predecessor e sucede-lhe também no status e posição social do falecido. Fica com o mesmo título ou denominação de parentesco que o falecido possuía. Ele é também designado para executar todos os deveres rituais do seu predecessor, isto porque a sucessão ao nome do chefado está associada com o poder de invocar os espíritos dos seus ancestrais.

O novo chefe herda todo o poder que o falecido tinha, tornando-se dono e senhor de todo o território do seu chefado, tanto das terras e suas makuna (reservas de caça), como dos rios, ribeiros e itende (lagoas, lagos, pântanos e terras alagadas). Ele tinha direito de propriedade sobre tudo o que existia no seu chefado, incluindo sobre todos os seus súbditos e todas as culturas feitas por eles.

Antigamente, tinha direito de primícias sobre todas as culturas e recolecção de frutos, bem como sobre a caça e a pesca, razão porque os seus súbditos lhe ofereciam as partes dos animais abatidos que lhe pertenciam e dos peixes que pescavam.

As palhotas eram queimadas, mas depois dos novos aldeamentos, o chefe sucessor herdava também a casa do falecido depois de desinfectada, caiada ou pintada e, neste caso, o sucessor pode herdar a casa porque pertencia ao chefe seu antecessor que era seu tio materno, já que a herança se efectuaria sempre colateralmente, isto é do tio materno para o sobrinho filho da irmã mais velha.

No entanto, embora o novo chefe herde toda a propriedade do chefado, incluindo as mulheres que pertencem ao seu clã, ele pode ficar com elas ou dividi-las com os seus parentes masculinos, se elas estiverem de acordo. Se for pfwo rya ulo (mulher de fora, doutro clã ou doutra etnia), pode não querer ser herdada e regressar ao seio da sua família com todos os bens móveis que obteve durante a sua vida de casada, salvo se tiver sido comprada pelo falecido a uma outra etnia.

De qualquer forma, as mulheres e os filhos destas herdam todos os bens móveis, todo o dinheiro que possuam assim como todas as culturas de que sejam donas, à morte do falecido marido. Por isso, pode dizer-se que, embora o novo chefe seja herdeiro universal, não o é de facto, totalmente, mas divisoriamente, visto que há mais de uma pessoa legalmente titulada a uma parte dos bens intestados.

O sucessor herda, pois, a maior parte dos bens deixados pelo antigo chefe defunto e todo o território do chefado, mas também é o primeiro responsável pelas dívidas a terceiros. Mas, se o novo chefe não dispõe de bens materiais para satisfazer as dívidas que o seu antecessor deixou, então serão os seus irmãos, os seus sobrinhos, os filhos das suas irmãs ou até mesmo os filhos do finado que poderão ser citados pelos credores.

Normalmente, a pessoa ou pessoas que herdam o dinheiro deixado pelo finado é que são responsáveis pelas dívidas deixadas pelo falecido, mas, de qualquer forma, todos os parentes mais chegados do falecido são forçados a pagar as dívidas por ele deixadas, com os seus próprios bens pessoais, visto que a sucessão entre os Tutchokwe não estar sujeita ao benefício do inventário, mas porque todos os familiares são solidários tanto nos lucros como nas dívidas.

No entanto, podemos dizer que entre os Tutchokwe, o sucessor e novo chefe é a personalidade legal do falecido, gozando dos mesmos direitos, mas também fica sujeito aos mesmos deveres do seu antecessor, após a morte deste.

Quando há mais dívidas que bens, o que geralmente não sucede, o novo chefe é responsável e pode ser citado para satisfazer todas as reclamações sobre os danos herdados.

Primitivamente, poucos eram os bens que qualquer falecido deixava quando morria e quase todos eles eram de carácter temporário, tais como armas brancas ou de fogo, arcos e flechas e armadilhas que revertiam a favor do seu sucessor. As colheitas eram pertença da viúva ou viúvas que eram herdadas.

Alguns bens pessoais poderão ser dados aos filhos do falecido, muito embora eles não sejam considerados como membros de linhagem, nem da família do pai, posto que os herdeiros são sempre os sobrinhos, filhos da irmã mais velha, como sucede em todas as etnias de linhagem matrilinear.’’’’

Fonte:culturalunda-tchokwe

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Origem do Nome da Etnia Tchokwe (segundo J. V. Martins)

Pelos relatos de Henrique de Carvalho, os povos do Nordeste de Angola devem ter vindo da região dos grandes lagos, corroborando a história contada por alguns velhos Tutchokwe e Lundas, os quais dizem que os seus ancestrais terão vindo dos lados de Nordeste, onde havia grandes montanhas geladas e um grande “Kalunga Ka Meya” (mar ou lago grande). Dizem eles que os Lundas descendem directamente do Nzambi e que todas as outras tribos negras descendem deles e praticam o sistema matrilinear.

Quanto à origem do nome “Tchokwe” ou Quiôco, os nativos da região terão contado a Henrique de Carvalho que o nome não existe na língua deles. Deve ter sido dado pelos Kimbundos, pois são os únicos que os tratam por “Quiôcos” em vez de “Tutchokwe”, como eles se intitulam e como são tratados pelos outros vizinhos. “Katchokwe” indica um elemento de nome colectivo e forma o plural “Tutchokwe” para indicar mais de um elemento da colectividade, enquanto “Utchokwe” designa a língua dos Tchokwe. A razão porque, em Kimbundo, se diz “Quiôco” em vez de “Tchokwe” deve estar relacionada com a mudança do prefixo da 3ª classe TCHI em KI, visto que em todas as palavras que em Tchokwe começam com o prefixo TCHI, este é traduzido em Kimbundo pelo seu correspondente Ki. Sendo assim, é de supôr que seja o mesmo vocábulo, embora pronunciado de maneira diferente, isto é, adaptado à língua Kimbundo. Em Utchokwe, dir-se-ia “ie-nu-naua a ku kinguri” – ou então, falando deles: “aya-kwo a ku kinguri”; e em Lunda “aiu kuau (que vão eles para, ou com, o “kinguri”). No entanto, como pode ter evoluído esta forma de expressão, é muito natural que, antigamente, se expressassem na 3ª pessoa do conjuntivo presente do verbo “ku-ya” (ir) “a-yo” em vez de “a-ya”, e que a forma comitativa “kwo” (com eles), tivesse sido mal pronunciada pelo intérprete ou pessoa que contou a história, e, assim, devido a uma má pronúncia, tivesse sido transformada; da união dos dois vocábulos num só pode ter derivado o vocábulo “woko”, que designa “aquele que vai e não volta”. 

Pode ainda indicar-se outra hipótese, a de “ku-tchoka” (verbo que significa ultrajar, amesquinhar, troçar, avassalar ou menosprezar), derivar do vocábulo “Tchokwe”, ou este do primeiro. Nesta hipótese, poder-se-ia concluir que este nome lhes tenha sido atribuído pelas outras tribos, suas vizinhas, quando, em tempos remotos e, segundo afirmam, eram por eles guerreadas, avassaladas e escravizadas. Aos vencidos cortavam as cabeças, por cujos crânios bebiam depois o “maluvu” ou “walwa” (vinho de palmeira); como presas de guerra levavam as mulheres e as crianças. A ser verdadeira esta versão, dada por alguns nativos, o vocábulo deve significar “povo bárbaro, mau, guerreiro, avassalador”. Segundo os autores que vimos citando, ainda hoje os Tutchokwe consideram todas as outras etnias, à excepção dos Lundas, raças inferiores a quem apelidam de “tubinje” ou “tundaka” (escravos ou estrangeiros).

Nesta ordem de ideias, ocorre perguntar se teria sido a tribo que deu o nome ao “tchiboko” (país dos Tutchokwe), ou se teriam estes tomado o nome do local onde se instalaram, sob as ordens dos seus grandes chefes “Muambumba”, “Mwandumba” ou “Ndumba-wa-Tembo”, de onde teriam saído à procura e conquista de novas terras para norte e sul ?

Como é sabido, a tradição oral é uma fonte importante de conhecimento, mas também é, por vezes, falível, contendo informações inexactas.

Assim, a possível origem do nome da Etnia Tchokwe é um óptimo tema para a recolha de contribuições dos historiadores, antropólogos, etnógrafos e outros estudiosos, que queiram ajudar a elucidar este tema (e outros contidos neste site).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Adivinha Tshokwe VI


‘’Uhimwina wa mayanga. Ika?’’ (O que é o descanso do caçador?)‘’Makungunwa’’ (Os joelhos, visto que quando está cansado senta-se e põe as mãos nos joelhos).‘’Kachitu muka ma mu-lonzela ku suku, manyinga maya ku akatcheka?’’ (Qual é o bicho que se caça longe e o sangue vai para o outro lado?).‘’Mwelela’’ (As cinzas do capim queimado).

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nha Cultura





Dundo Nha Terra



Emblema do Grupo Desportivo Sagrado Esperança


O sonho de um dia ter uma Motorizada!
Paisagem Natural!
O Vestir do nosso Povo!
Fazendo Carro de Arame!
Carregando Batuque da nossa Terra!
Transando o Cabelo!
Vista exterior do Estádio Sagrada Esperança!
A cidade Diamantífera do Dundo era também chamada Cidade Verde!
Routunda do Bairro Norte (Dundo)
Biblioteca do Dundo
Estrada Principal do Dundo

sexta-feira, 3 de junho de 2011


’Yia a-soka kachi ku-patuka?’’ (O que é que nunca acaba de crescer?)‘’Kambwe’’ (O cabelo).
‘’Yimbia yia a mwata kachi ku-ya matamba. Ika?’’ (Qual é a panela do chefe que não se mete esparregado, o que é?)‘’Lutfungo’’ (O espeto).

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Versões do Ilunga e Rainha Lueji


Num dia desse, o TCHINGULI e o TCHINHAMA, foram beber a famosa bebida hidromel, ao regresso a casa espancaram o paí deles, o velho KUNDE, criando-lhe infecções internas e ele velho, ao se sentir moribundo, zangou-se com os dois filhos e, chamou a “cassula” a ultima, a LUEJI (RWEEJ) e vestiu-a, o LUCANO, deu lhe o poder de governar o Estado do Reino da Lunda
Certo dia, os soldados trouxeram-na um ladrão da tribo Tchiluba, chamado ILUNGA, e grande caçador que foi apanhado quando roubava a famosa bebida hidromel, que era parte servida na Corte da Rainha LUEJI. Uma reunião da Corte foi convocada de emergência para se decidir, da sorte do ladrão. A maior parte dos membros da Corte decidiram matar o ladrão, porém a Rainha LUEJI na sua qualidade de Chefe, e porque engraçou-se no seu coração com o ladrão, pediu aos membros da Corte, para que não o matassem, e que fosse viver no seu quintal como escravo e mão de obra na construção de residências. Pedido aceite, ILUNGA passou a viver no quintal da LUEJI como seu escravo. Durante a sua estada no quintal da Rainha, ILUNGA passa a ter relações intimas com a prima e a própria Rainha Lueji.
A Lueji como já tinha a pretensão de ficar com ele como seu marido, surpreendeu a Corte, convocando uma Assembleia Estadual e apresentou o ladrão como seu esposo.
É este facto que constitui uma grande violação do tabú do povo ARUWUND, que constituia em os membros da corte ou simplesmente “MUANANGANAS” que significa também “proprietários da terra” ou “Mwaantaangaand” nunca contrairem o matrimonio com um VASSALO ou TCHILOLO. Portanto, como é uma violação de um PACTO SAGRADO, os membros da Corte revoltaram contra a Rainha Lueji.
O desmoronamento da corte da Rainha Lueji, tem lugar com a saida massiva de grandes nomes de personalidades da família Real ARUWUND, Tchinguli, Tchinhama, Ndodji, Thumba Kalunga (Muacanhica, Muambumba, Muakahia, Muandumba e Tembo) e um punhado de populações inteiras descontentes com a violação do pacto sagrado.
Konde, um dos primeiros líderes da Lunda, teve dois filhos, Chinguli e Chiniama, e uma filha, Lueji. Quando os filhos insultaram o pai, Konde deserdou-os, afirmando que Lueji iria sucedê-lo. E quando ele morreu, os irmãos apresentaram Lueji à autoridade. Lueji dizia ser a neta de Chinawezi, uma serpente cósmica primordial.
Um dia, foi avistado um importante membro do reino de Lueji, que com alguns homens cortavam um antílope. Eles falavam uma língua que não era familiar. A pessoa que comandava, Chibinda Ilunga, um jovem bonito, apresentou-se como um caçador e pisteiro a Lweji, uma rainha Lunda. Foi assim que se expandiu a linhagem Ilunga.Os Chokwe do que é hoje o centro norte de Angola eram, então, súbditos do Lunda.Por volta de 1650, o governante mwaant Yaav Naweej estabeleceu rotas de comércio da sua capital para a costa atlântica e iniciou o contacto directo com os comerciantes europeus ávidos por escravos e produtos florestais. No final do século XVII, os postos Lunda no atual leste de Angola controlavam o comércio regional de cobre, e os povoados em torno do lago Mweru dominavam o comércio a partir da costa Leste Africana.Em meados do século XIX, os Chokwe separaram-se dos Lunda, e a cultura Chokwe, incluindo Chibunda, a revitalização da propagação da realeza sagrada Ilunga entre os vizinhos povos Mbundu, Lwena, Inbangala, Luchazi e Luvale. Esses povos puseram-se em marcha e encontraram santuário na Zâmbia.
Quando Kundi, o sucessor de Iala Maku, envelheceu, a harmonia entre os povos lundas estremeceu. Quem seria o sucessor do velho Kundi? Um dos rapazes? – O Tchinguri ou o Tchinhama? - Ou a menina, Lweji, a mais jovem filha da segunda esposa? Dizem que os irmãos não se entendiam. Tchinguri era o mais afoito e Tchinhama o mais ponderado. Porém, numa tarde, os dois irmãos irromperam embriagados de vinho de palma pela tchota (palácio) do pai e maltrataram-no, ambos querendo sucedê-lo. O velho, meio cego, no seu leito de morte, amaldiçoou-os e logo ali avisou que nenhum deles seria o seu sucessor. Chamou os macotas (anciãos) e informou da sua decisão de entregar o poder a Lweji, meia-irmã de Tchinguri e Tchinhama. Iria agora começar na Mussumba (povoação) o império Muatyânvua, constituído que foi o casamento de Lweji, a nova rainha lunda, com o caçador baluba Tchibinga Ilunga.
Várias são as versões contadas sobre este império. Embora todas elas interessantes, optamos pela versão do engenheiro Sá Vicente, no livro A Lunda, os diamantes e a Endiama. Das várias conversas que tivemos com alguns mais-velhos da Lunda-Norte, sem querer meter a foice em seara alheia, apelamos aos historiadores que nos deixem romancear mais uma vez esta maravilhosa epopeia.
Assim que o velho Kundi morreu, Lweji recebeu o lukano (pulseira feita com tendões humanos que simboliza o poder) e de imediato é conduzida à chefia dos Lundas. Lweji, digo a bela Lweji (Lua em português), já que se diz que era uma jovem de extraordinária beleza, mas também munida de muita inteligência, foi governando os Lundas com a prestimosa ajuda dos mais velhos, os macotas, até que…

Um belo dia, vindo do Leste, apareceu Tchibinda Ilunga, um caçador da etnia luba, também de sangue nobre, neto do fundador do segundo império luba, Mutondo Mukulo (árvore velha) que com as suas gentes desafiou os lundas caçando nos seus domínios. Tchibinda Ilunga (tchibinda significa caçador) não trazia mulheres no seu séquito. Somente o acompanhavam homens, caçadores e guerreiros, e ele era, para além de destemido, conhecedor da pólvora e da arma de fogo da altura – o canhangulo (arma de carregar pelo cano), que iria revolucionar para sempre aqueles povos, ao contrário dos lundas que ainda estavam no tempo da zagaia (arco e flecha), que embora conhecedores do ferro, ainda desconheciam a pólvora.

Lweji apaixonou-se de imediato pelo corajoso caçador com quem se casou, contra o que lhe era permitido, já que o seu povo praticava a endogamia, que a obrigava a contrair matrimónio unicamente dentro da sua tribo. Para agravar ainda mais a situação, entregou-lhe o lukano, a pulseira dos antepassados que representa o poder.

Tchinguri, o primogénito, e Tchinhama, já de si agastados com o casamento com o estrangeiro Ilunga, com a entrega do lukano viraram-se contra a irmã. Nada conseguiram, porém, já que o poder dos guerreiros lubas e dos canhangulos de Tchibinda suplantavam o arco e a flecha usados pelos lundas.

É Lweji, mais uma vez, quem sai a ganhar e expulsa os dois irmãos da tribo, embora se diga também que os próprios a terão abandonado de sua própria iniciativa, depois desta ter pedido a Tchibinda que lhes ensinasse os seus conhecimentos sobre a arma e a pólvora.