Lunda Tchokwe

Os Tchokwe / Chokwe desfrutam de uma admirável tradição de esculpir máscaras, esculturas e outras figuras. A sua arte inventiva e dinâmica, é representativa das várias facetas inerentes a sua vida comunitária, dos seus contos míticos e dos seus preceitos filosóficos. As suas peças de arte gozam de um papel predominante em rituais culturais, representando a vida e a morte, a passagem para a fase adulta, a celebração de uma colheita nova ou ainda o início da estação de caça. O nome Tshokwe apresenta algumas variantes (Tchokwe, Chokwe, Batshioko, Cokwe) e, entre os portugueses, ficaram conhecidos por Quiocos . "Nesta pagina podemos usar qualquer variante do nome Tshokwe (acima referido)"

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quarta-feira, 28 de março de 2012

A Pintora da Lunda

Num banco de madeira tradicional, uma senhora pintava uma tela em tons laranja. Nessa tela via-se um leão morto sob a lança de um homem alto e esguio; o caçador mantinha orgulhosamente o pé sobre a cabeça do leão e olhava para a sua amada, cuja felicidade era evidente. As árvores da savana pareciam ser tremendamente pequenas perante aquele arte de bravura. Ao olhara com maior atenção constatou semelhanças com os mesmos personagens do quadro dos amantes, à margem do rio. Riu-se da metáfora do Leão. Parecia-lhe que o homem que viria a ser o seu amado, esmagaria o Leão para liberta-la daquela prisão.
- Boa tarde minha senhora amei esse quadro.
- Imagino que sim. É o Leão que a cativa, não é? – disse a velhota com uma voz arrastada fitando-a nos olhos. Lueji, por sua vez não podia acreditar.
- É … mesmo … o Leão – gaguejou enquanto descortinar como a senhora decifrava-lhe a mente
- O Leão é uma força muito poderosa na Natureza que deve ser respeitado; mas nunca venerada, minha querida. Quando veneras o poder do Leão tornas-te sua presa e ele vai usar-te sempre. Por isso, quando somos dominados por uma Leão, só temos uma hipótese: Abatê-lo, para seguir em frente.
- Podemos evita-lo – sugeriu à procura de uma solução menos drástica.
- Fugir? Isso não é soluça. O Leão fareja a quilometro, minha querida. Uma vez presa,para sempre presa.
Ele ainda de avião – disse a rir, lembrando-se que Leão Magno estava noutro continente.
O Wayami encolhia os ombros e ria-se daquela conversa absurda sobre um leão. Acabou por se afastar, para ir cumprimentar os senhores que estavam sentados à sombra de um cajueiro.
- Querida, estava à tua espera –disse Utima libertando um suspiro de alivio.
- À mina espera, como assim? – desconfiou tentando encontrar alguma lógica naquelas palavras.
- Utima levantou-se lentamente, apresentando um corpo frágil e débil. Entrou para a cubata em adobe e palha. Convidou-a a entrar para um espaço onde o cheiro do barro misturava-se com o das tintas.
- Bem-vinda à minha humilde casa, minha filha. A cubata era pequena, mas muito arrumada e apresentava quadros ordeiramente pendurados em algumas paredes.
- Eu sei que estou a morrer, filha. Urge passa conhecimento a quem possa garantir a sua perpetuação.
- A morrer? – disse Lueji, aflita. Não diga isso…
- Sim filha. Todos temos a nossa hora. Ainda, o ano passado foi o teu avo, não foi?
- Foi, sim – confirmou tristemente e envergonhada por n’ao ter estado no óbito.
- Esperamos por ti ma não vieste…
- Não pude mesmo – explicou recordando-se não possuir realmente nenhuma justificação plausível  a não ser motivos profissionais.
- Eu sei afirmou pesarosamente – e porque vieste agora?
- Uma longa historia que está relacionada com os seus quadros.
- Com os meus quadros? – questionou Utima surpreendida.
- Sim! Os que desapareceram…
- Ai é? Zambi sabe maemo o que faz minha filha. Foi a forma que Ele encontrou para nos juntar. Mas como chegaste ate mim? Como soubeste das obras?
- Uma historia complicada – recordou Lueji – no entanto de forma resumida posso dizer que encontrei um rapaz que estava na posse de um conjunto de informação. Nessa informação estavam as fotos dos seus quadros.
- Deve ter sido o pobre do Kieza. Faleceu recentemente, não é? – disse enquanto enchia o copo de maruvu. Bebeu um trago e sentou-se calmamente num banquinho de madeira onde estavam esculpidos alguns motivos florestais. Fitou Lueji com um ar calmo e comprometido;- dói demais quando perdemos jovens desta forma-desabafou enquanto puxava outro banco para Lueji.senta-te filha! Temos muito por conversar- disse deixando as lágrimas jorrarem pelo seu rosto. Estamos a perder-nos! – desabafou deixando escapar a desolação que lhe assolava a alma.
- Acho que não pode tirar coclusoes precipitadas, niguem percebeu bem ainda p que se passou.
- O que se passa é bem simples, nós temos a chave para chegar à Aldeia de Deus. E eles querem que essa chave se perca.
- Mas se eles já a têm; pelo que percebi os quadros são a chave da sabedoria.
- São, mas apenas os enviados conseguem atingir essa sabedoria. Conseguem percorrer o caminho da luz. É preciso ter a simplicidade de uma criança e um amor incondicional para se perceber as pistas.
- Mas a Utima concerteza já atingio essa sabedoria.
- Nunca consegui chegar a Aldeia de Deus. O teu avo dizia que eu não a queria ver.
Será? A sua sensibilidade artística é tão grande que custa a acreditar que não a quisesses ver…
- Não sei! Mas a verdade é que eu gosto é d pintar. Essa é a minha missão cá. A procura de Aldeia de Deus e da sabedoria que encerra cativa-me mas não ao ponto de abandonar as minhas telas e o meu mundo.
- Percebo-a Utima. Não é fácil deixarmos o nosso mundo para embarcarmos em mundo desconhecidos.
- No entanto filha, há riscos que corremos que na altura desconhecemos o seu verdadeiro sentido? Mas, mais tarde, se tornam compreesiveis.
- Penso que é isso que está acontecer comigo!? Estou a correr risco na vida que não sei se mais tarde não me arrependerei.
- Não te vais arrepender pois estávamos à tua espera. Como tal só podes estar no sitio certo.

IN: Aldeia de Deus/Tchehunda Tcha Nzambi
LUEJI DHARMA

sexta-feira, 16 de março de 2012

Tchianda

Os sassa-tchokué Internacional, tem no seu estilo rítmico o som da circuncisão e tchianda adaptáveis à cultura das províncias das Lundas Norte e Sul, quando o Kafundegi mostra a preparação educacional da futura jovem mãe.
Clica Play a baixo para escutar a musica:

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sexta-feira, 9 de março de 2012

Novo Livro a Falar da Cultura Tchokwe

Luciano Canhanga disse, ao Jornal de Angola, que, entre Maio e Junho, apresenta o segundo livro de sua autoria, “Manongo-Nongo”, dedicado a jovens e a crianças.
O título, afirmou, é o nome de um ritual da tradição tchokwé caracterizado por “uma cerimónia familiar”, que se realiza quando nasce uma criança.
A ideia, referiu, é preservar e enaltecer os valores da tradição angolana e despertar nos jovens o interesse pela cultura nacional.
O livro, de 70 páginas, constituído por 12 contos, declarou, “é uma oferta às crianças angolanas, que vão aprender um pouco mais com histórias de sabedoria transmitidas pelos mais velhos”.
Luciano Canhanga nasceu no Libolo, em 1977. Formado em comunicação social, é jornalista desde 1996. Foi repórter e correspondente da então Radiodifusão Portuguesa África (RDP), editor da Luanda Antena Comercial (LAC) e colaborador do “Jornal dos Desportos” e do diário português “Correio da Manhã”. O primeiro livro que publicou, o romance “O Sonho de Kaúia”, foi posto à venda em 2010, mas, até ao final do ano, apresenta mais dois, o romance “O Relógio do Velho Trinta” e um de poemas, “10 Encantos”


In: Jornal de Angola

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Mungonge e Ciwila

As iniciações dos adultos são chamadas mungoge, para os homens (30 anos), e ciwila, para as mulheres (31 anos). São provas de força de carácter e de resistência fisica ás quais se submetem  livremente. Elas são secretas para os não iniciados, bem como o seu vocabulário proprio. A duração das provas é de uma noite: começando às oito horas da noite e terminando às nove da manha. Na altura de mungoge, um terreno retangular, denominado zemba, é desbravado e fechado no mato; numa das suas extremidades é delimitado um espaço, pela poliçada mayila, da altura de um homem,  plantada em arco de circulo. Aí colocam-se, chegada a noite, o grupo de notáveis myata (sing. Mwata), bem como o Mbongo, que se sentam á volta de uma fogueira, kahia; e perto de um segundo fogo, o grupo dos afu a zemba, encarnando o esoirito dos mortos. Na outra extremidade do zemba, os candidatos myali (sing. Mwali) reunem-se á volta de uma terceira fogueira, feita perto dos espiritos ancestrais, os mahamba Sabanza e Nambanza, representados por dois pequenos montivulos em forma de crecentes, que são decorados por penas de galo, em leque, que lhe foi sacrificado, com a oferenda do seu sangue e de papas de mandioca.

Curvados, com a cabeça contra o solo, os myali aguardam a chegada dos espiritos dos mortos. Os afu a zemba, pintados com argila branca, pemba, abandonam o abrigo da paliçada mayila, contornam o exterior do zemba, avançando de cócoras, um atrás do outro, gritando, e penetram sob a forma duma comprida serpente branca no cercado do lado dos candidatos myali.
Aterrorizado, eles deverão suportar sem se defender, as violencias das almas do outro mundo, durante toda noite e que só terminarão com o despontar do dia, com a aparição fantasma da ave pernalta Mbongo.
 Completamente nu e esbranquiçado de pemba, o Mbongo enfiou o seu chapeu cónico leve lunguwa, depois de ter cuspido no interior um medicamento mágico, que aplicou igualmente sobre as andas mapaya, muito altas, para evoluir sobre elas sem acidentes.
 O Mongo é assistido por dois ou tres yikayi (Sing. Cikayi) montados sobre as andas mais baixas.

  • “O colaborador Muacefo  não pareceu estar inteiramente ao corrente da ciwila das mulheres”.
  • Segundo ele, os afu a zemba e os yikayi femeninos tambem ali participam,à excepção da ave pernalta Mbongo.